Quatro anos após os eventos de Resident Evil 7 biohazard, a jornada de Ethan Winters continua em Resident Evil Village, o oitavo título principal da gigante franquia de horror da Capcom. Dessa vez, Ethan está em busca de sua filha raptada, Rosemary Winters, em um isolado vilarejo europeu que guarda grandes mistérios e monstros de todos os tipos. Resident Evil Village enfim chegou e já está fazendo um sucesso considerável na internet. E sim, ele merece o sucesso e destaque que vem ganhando, apesar de alguns fatores não tão agradáveis. Hoje, trago aqui a minha análise completa e sem spoilers de Resident Evil Village!
Análise por: Gabriel Scórsin
Testado no PlayStation 5
Agradecimentos a Capcom Brasil pela cópia digital do jogo
INTRODUÇÃO
Mais uma vez, Ethan Winters entra no mundo do horror de sobrevivência sem querer. Quatro anos após os acontecimentos desastrosos na fazenda da família Baker, o rapaz encontra-se casado com Mia Winters morando em um local seguro da Europa e agora com uma filha com apenas alguns meses de vida, Rosemary Winters. A vida estava tranquila e serena, até que de repente, Chris Redfield invade sua casa atirando contra Mia e sequestrando Ethan e Rose. De alguma forma, ele acorda em um isolado vilarejo europeu coberto de neve e cheio de criaturas horrendas perseguindo os aldeões.
Conforme a Capcom foi liberando mais imagens e trailers do jogo, a comunidade parecia se interessar cada vez mais pelo título, sem falar no enorme sucesso que Lady Dimitrescu fez na internet. Com tantas expectativas, será que Resident Evil Village é tudo isso mesmo que prometeram? Já adianto que sim, o game é ótimo e a experiência de controlar Ethan e o acompanhar na jornada em busca de sua filha é sensacional, com vários momentos de ação, cenas de arrepiar, uma narrativa instigante e puro terror! Ao mesmo tempo, existem alguns pontos do jogo que não são tão favoráveis para a franquia e que podem também deixar alguns fãs decepcionados. Vamos com calma, irei desenvolver todos os pontos positivos e negativos ao longo desta análise. Mas de forma geral, já adianto: Resident Evil Village é insano (de bom).
HISTÓRIA
O primeiro ponto que irei desenvolver será sobre a própria narrativa do jogo. Depois de duas reimaginações lançadas seguidas, temos um jogo em que absolutamente tudo é novo e não podemos prever cenas ou eventos enquanto jogamos. Como até já mostrado nos trailers, a trama de Resident Evil Village gira muito em torno de mistérios, que aliás é um elemento essencial para criar um conto de terror. Mas esse jogo especificamente, usa e abusa dos mistérios de forma que os fãs fiquem se perguntando a todo momento as justificativas de trama acontecer. Por que Chris mata Mia e sequestra Rose? Como Ethan vai parar na vila? Por que querem a filha do Ethan? Quem é Miranda? O que são as criaturas do vilarejo?
Todas essas perguntas formam uma base para elevar o interesse do jogador pela trama. E a propósito, boa parte dessas perguntas são respondidas durante o jogo, seja em cutscenes ou através de arquivos. A história principal de Resident Evil Village, ou seja, toda a jornada de Ethan em busca de sua filha, é excelente e forte emocionalmente. Ainda vou falar melhor sobre o protagonista, mas diferentemente de Resident Evil 7, o jogador poderá ter uma relação melhor com Ethan e entender o que este pai está passando. Eu diria que o melhor ponto da história deste jogo é de que a trama principal é forte emocionalmente e promove momentos únicos para o jogador.
No entanto, um dos grandes problemas que já devo sinalizar neste game é a subtrama e as entre-linhas da narrativa. É sempre bom termos um game, ainda mais de Resident Evil, que promova uma subtrama interessante e enriquecendo a história principal. Não é o caso de Resident Evil Village, pois muitos acontecimentos confusos do jogo são explicados em resumos ou em simples linhas de diálogo, deixando a desejar em uma riqueza de detalhes pela parte da narrativa. Isso não quer dizer que a subtrama de Resident Evil Village é ruim, mas ela não chega a ser suficiente para um jogo que apresentou tantos conceitos novos para a série ou até de elementos clássicos que tem conexão com outros jogos.
HISTÓRIA / ETHAN WINTERS
Agora um ponto super positivo e que fiquei muito feliz de ver nesse jogo: Ethan Winters! O protagonista de Resident Evil 7 não foi tão bem recebido pelos fãs antes, por se tratar de um civil muito introvertido e com pouca personalidade. Resident Evil Village já nos apresenta um Ethan totalmente diferente e bem mais carismático! Afinal, o jogo é sobre ele e o conflito da trama está fortemente entrelaçado com a jornada imparável do personagem em busca de Rose.
Eu particularmente, já admirava Ethan pela coragem e determinação que ele mostrou em Resident Evil 7, enfrentando os mais diversos perigos para salvar Mia. Essas duas qualidades do personagem voltam com mais força ainda, mostrando uma variação incrível de emoção do personagem. Em alguns momentos, Ethan mostra-se como alguém extremamente corajoso e valentão e já em outros, o personagem assume uma posição mais vulnerável às mudanças que ocorrem na trama. É simplesmente admirável e lindo ver o lado paterno de Ethan, enquanto ele enfrenta sua perigosa jornada para salvar Rose, sem desistir ou desviar do caminho. Para aqueles que não gostavam de Ethan anteriormente, tenho certeza que dessa vez você possa ter mais apego ao personagem e envolver-se mais durante a sua trajetória.
HISTÓRIA / FAMÍLIA BIZARRA
E de novo, Ethan Winters acorda amarrado de frente a uma família bizarra. Além de Ethan, outros personagens fortalecem a trama e o destaque fica para a "família" que controla o vilarejo. A Mãe Miranda, uma figura de extrema autoridade para os aldeões, e seus quatro lordes a servindo. O melhor dessa família é que, assim como os Bakers, cada lorde tem características marcantes em personalidade e até em combate.
Falando já sobre a famosa Lady Dimitrescu (que eu sei que você está querendo saber mais sobre ela), essa personagem já havia conseguido conquistar o coração dos fãs desde o começo de 2021, e com certeza ela não irá lhe decepcionar em Resident Evil Village. O gosto por essa personagem não se limita apenas a sua beleza e monstruosa altura de 2,9 metros, mas também pela sua personalidade e pela forma que ela age com suas filhas bruxas: Bela, Cassandra e Daniela Dimitrescu. Assim como Ethan está tentando proteger sua família, Alcina também está protegendo a sua e é imparável na perseguição por Ethan no trecho do Castelo Dimitrescu.
Os outros lordes são: Donna Beneviento com sua boneca, Angie; Salvatore Moreau; e Karl Heisenberg. Diferentemente de Alcina, não acho bom falar sobre todos eles para evitar spoilers, mas cada um tem uma personalidade própria e características marcantes, refletindo na jornada de Ethan, o que faz enriquecer o roteiro, pelo menos na parte da história principal.
GAMEPLAY
Não tinha dúvidas de que a Capcom iria entregar Resident Evil Village com uma excelente gameplay, já que em todos os últimos jogos da RE Engine, a Capcom tem se mostrado de forma positiva nesse quesito. A gameplay de Resident Evil Village é divertida e bebe da fonte de Resident Evil 4, mas em contrapartida, em alguns momentos do jogo, a gameplay fica um pouco mais destoante da padrão. Vou tentar exemplificar isso da melhor forma e sem dar spoilers:
O trecho do Castelo Dimitrescu tem bastante semelhança com a clássica gameplay de Resident Evil. Chaves diferentes para abrir portas diferentes, solucionar quebra-cabeças, explorar os cenários em busca de munição e recursos, ir na sala segura para comprar algo com o Duque e salvar, vai e volta, vê a Lady Dimitrescu e sai correndo (ou não). Mas o trecho da Fábrica de Heisenberg já é bem diferente, assim como os trechos da Casa Beneviento e do Reservatório Moreau. Isso é ruim?
Na minha opinião, depende muito de como vai elaborar essa variação na gameplay e Resident Evil Village fez bem isso. O meu grande problema com essa variação foi somente em um trecho específico: a Fábrica de Heisenberg. Ali achei que a combinação dos inimigos mais diferentes e o cenário confuso acabou quebrando bastante o ritmo do jogo, parecia que eu estava jogando outro game completamente diferente. Agora em relação ao Castelo Dimitrescu, Casa Beneviento e Reservatório Moreau, além de outros trechos, são excelentes. Gostei mais do castelo, mas também tenho que dizer o quão incrível e perturbador foi jogar a parte da Beneviento. O estilo de terror psicológico que a Capcom criou nesse trecho tem que ser elogiado e passado para os outros jogos, talvez apenas com a escolha entre combate ou fuga como é clássico em Resident Evil.
Mas um fator super positivo da gameplay e que a Capcom com certeza poderia enriquecer essa ideia com o passar do tempo nos próximos jogos é a exploração do vilarejo. Eu sempre fui muito fã de explorar as localidades de Resident Evil, não é a toa que minhas localidades favoritas sejam cenários com foco em exploração e cheio de segredos como a Mansão Spencer, Queen Zenobia, Raccoon City etc. O vilarejo do oitavo game é enorme e ainda possibilita uma ampla exploração e solução de quebra-cabeças para conseguir itens valiosos como tesouros ou munição de armas fortes. Primeiramente, a exploração é limitada pelo jogador não possuir itens necessários para destravar portas ou caminhos. Mas conforme você avança na história e vai adquirindo mais itens-chaves, você pode voltar para o vilarejo e ficar andando de um lado para o outro tentando deixar todos os locais limpos de itens mostrado no mapa.
Em relação a primeira pessoa, eu nunca fui muito fã desse estilo de câmera e preciso dizer que preferia muito mais uma câmera em terceira pessoa para Resident Evil Village. Mas, assim como em Resident Evil 7, a Capcom conseguiu adotar uma gameplay até confortável e que não me fez ficar tonto enquanto jogava o game. Além disso, vimos os acontecimentos de Resident Evil 7 através do olhar de Ethan, então é interessante passar pela experiência de Resident Evil Village pela mesma perspectiva da visão do personagem.
ELENCO DE INIMIGOS
Algo que achei ótimo foi o elenco variado de inimigos que Resident Evil Village oferece, já que em Resident Evil 7 tínhamos poucos monstros diferentes (Mofados, insetos e os Bakers). Resident Evil Village tem diferentes ameaças e cada uma tem mecânicas diferentes de combate, o que acaba deixando o game mais divertido e interessante. Para cada tipo de inimigo que se coloca em seu caminho, você deve traçar estratégias diferentes para lidar com eles.
Outro elemento ainda puxado para os inimigos do jogo são as batalhas de boss. Achei todas muito divertidas, com exceção apenas de uma mais voltada para a ação (você saberá bem qual é ao jogar o game). E os designs de todos eles também ficaram excelentes! Monstros medonhos, estranhos e terrivelmente assustadores, como Resident Evil sempre teve.
MAIS AÇÃO OU TERROR?
Afinal, Resident Evil Village é mais voltado para ação ou terror? Conforme disse antes, a gameplay varia de acordo com o trecho que você se encontra. Mas não se engane! Apesar de terem sido mostradas cenas de ação frenéticas antes e a inspiração em Resident Evil 4, o oitavo game da série tem muito terror também, principalmente em sua primeira metade. A ação está mais presente na segunda metade, e afinal, quase todo Resident Evil tem uma pitada de ação, não é verdade?
Entretanto, o grande problema em Resident Evil Village é que, nas partes com a ação, é uma ação exagerada, principalmente em uma batalha de boss específica em que a ação se torna algo bem incômodo. Isso ficará mais claro quando você jogar e não posso detalhar para evitar spoiler. Mas se prepare para enfrentar coisas que você jamais pensaria que estariam num jogo de Resident Evil e algumas cenas que chegam a ser bem parecidas com o frenético Resident Evil 6.
A EXPERIÊNCIA NO PLAYSTATION 5
Testei o jogo no PlayStation 5 e a imersão é surreal. No começo, tive dificuldade para me acostumar com os gatilhos adaptáveis do DualSense que mudam de acordo com a arma que Ethan carrega. Armas mais pesadas como a Shotgun ou a Sniper, por exemplo, deixam o L2 muito rígido. Tão rígido que quando comecei a jogar, me fez mais atrapalhar. Com o tempo, fui me acostumando com os gatilhos e acabei me deixando entrar mais no universo de Resident Evil Village.
No PlayStation 5, não há tela de loading. Assim que você coloca Novo Jogo no meu, o game carrega instantaneamente. Momentos de save ou depois que o personagem morre, ao selecionar "Continuar", o jogo também carrega instantaneamente. O feedback tátil do DualSense também possibilita que o jogador sinta as ações de Ethan e a imersão ao game aumente, ainda assim, esse feedback tátil com vibrações do controle poderia ser bem mais trabalhado.
LOJA DO DUQUE
O Mercador voltou! Dessa vez, a figura do sujeito vendendo recursos ao jogador fica pelo Duque, um morador hilário, simpático e único do vilarejo. O que eu pensava ser uma simples mecânica de gameplay referenciando Resident Evil 4 acabou se tornando um dos meus elementos favoritos deste game! Duque também tem participação na narrativa e é tão carismático quanto os outros personagens. Os comentários e dicas que ele dá para Ethan, além de suas ações hilárias fazem o jogador se divertir bastante.
Duque pode vender receitas para fabricação de munição, munição, itens de cura, armas, peças de arma para personalização e melhorias de armas. Ele também pode cozinhar pratos deliciosos para Ethan que melhoram a capacidade física do personagem. Sem dúvidas, a loja de Duque e sua personalidade são um dos pontos mais positivos deste game! Quando você mais precisar de ajuda, Duque pode lhe ajudar!
DESIGN DE SOM E TRILHA SONORA
Mais uma vez, o som é um elemento essencial para a sua sobrevivência em Resident Evil Village e entrega uma imersão completa com os efeitos sonoros específicos e desenho de som magnífico feito pela Capcom. Os sons condizem bem com cada elemento que está inserido no jogo e recomendo até jogar uma vez com fones de ouvido. Você poderá sentir-se mais imerso nos ambientes do jogo ao ouvir o incrível som 3D que a Capcom desenvolveu. Antes você se assustava com as botas pesadas de Mr. X, agora vai se assustar com os passos de Alcina.
Em relação a trilha sonora, também está excelente com músicas que deixam cada momento do jogo mais vivo e eletrizante. Além do mais, aos créditos do jogo, podemos ouvir uma bela música com vocais composta pela Capcom para o título. Não chega a ser uma música tão marcante quanto Go Tell Aunt Rhody de Resident Evil 7 ou Saudade de Resident Evil 2, mas ainda sim, é uma bela e assustadora música!
GRÁFICOS
Assim como Resident Evil 7, Resident Evil 2, Resident Evil 3 e Devil May Cry 5, a Capcom trabalhou novamente com a RE Engine, possibilitando gráficos ultra-realistas e que fazem nossos olhos brilharem com a riqueza de detalhes de cada cenário. De longe, a ambientação deste game é um dos melhores pontos! Todos os cenários, sem nenhuma exceção, são absurdamente lindos e admiráveis. Fiquei horas olhando para os cenários e todos os seus detalhes, principalmente no Castelo Dimitrescu. O design dos personagens, armas e itens diversos também ficou surpreendente!
E lógico que para valorizar este trabalho incrível que a Capcom fez, Resident Evil Village conta com um Modo Foto, onde o jogador pode usar diversas configurações ao longo da jogatina para tirar fotos ou registrar os melhores momentos. Infelizmente, este Modo Foto não estava presente nos games anteriores, apenas em Devil May Cry 5 e de uma forma bem simples. Felizmente, o Modo Foto de Resident Evil Village é um prato cheio para quem gosta de fotografia virtual.
DUBLAGEM EM PORTUGUÊS BRASILEIRO
Resident Evil Village é o primeiro game da série com opção oficial de dublagem em português brasileiro! E a qualidade da localização está incrível! As vozes brasileiras combinam perfeitamente com cada personagem. E sabemos que dublagem não significa apenas combinar a voz, mas também interpretar. A interpretação dos dubladores também ficou excelente! Apesar de gostar bastante de jogar e assistir filmes sempre legendado por uma questão de costume, não pude deixar de jogar o game duas vezes, sendo uma dublada para prestigiar o trabalho feito.
FATOR REPLAY
Depois de alguns games na série com esse ponto precisando melhorar um pouco, Resident Evil Village já chegou com tudo! Assim como Resident Evil 3, ao terminar a campanha, o jogador tem acesso a uma loja para comprar diversos itens extras em troca de pontos adquiridos ao cumprir desafios. Em Resident Evil 3, a loja apenas disponibilizava itens a serem usados no jogo. Artes conceituais e modelos eram desbloqueados também cumprindo desafios.
Dessa vez, a loja de extras reúne artes conceituais, modelos, armas e munição infinita. Ao concluir desafios e ganhar pontos, o jogador pode escolher o que comprar antes. E entre estes extras, também está o tão querido e aclamado modo extra: The Mercenaries / Os Mercenários! Nesse mini-game clássico da série, os fãs devem enfrentar hordas de monstros em uma corrida contra o tempo. O modo extra continua divertido e entrega mais horas de entretenimento para os fãs, mas esperamos que ao longo do ano, novas atualizações possam adicionar conteúdos para os Mercenários. Seria ótimo controlar outros personagens além de Ethan.
RESUMÃO
Resident Evil Village é uma excelente sequência para a franquia Resident Evil e um jogo digno para a série. A história repleta de momentos marcantes e fortes emocionalmente segura o jogador do começo até o fim e possibilita a abertura de novos arcos a serem desenvolvidos futuramente. A gameplay é confortável, imersiva e divertida, entregando horas de entretenimento aos fãs da série com forte presença do horror de sobrevivência e um nível de ação para deixar tudo mais grandioso. Recomendado para todos os fãs da série e fãs de jogos de horror!
NOTA FINAL: 9,0 / 10