Ghostwire: Tokyo deu o que falar desde que foi anunciado por Shinji Mikami ainda em 2019 durante a conferência da Bethesda na E3. Daquela edição do evento para cá, a Tango Gameworks aprimorou o game e enfim o lançou em 25 de março de 2022 para PlayStation 5 e PC. Depois da compra da Bethesda pela Microsoft também é de se esperar que Ghostwire: Tokyo chegue futuramente para Xbox Series X.
Análise por: Gabriel Scórsin
Testado no PlayStation 5
INTRODUÇÃO
Ghostwire: Tokyo é um jogo de ação em mundo aberto com elementos do horror japonês como fantasmas e criaturas fantásticas. O jogador assume o controle de Akito, um civil de Tóquio que sofre um acidente logo no começo do jogo e que é possuido por uma entidade sobrenatural conhecida como KK. A partir disso, Akito ganha poderes como manipulação de energia e éter cristalizado, essencial para combater inimigos conhecidos como "Visitantes" que chegam logo após uma névoa misteriosa dominar a capital japonesa.
O título é desenvolvido pela Tango Gameworks, estúdio criado por Shinji Mikami, criador de Resident Evil e The Evil Within, e que neste novo game atua como produtor executivo. Por essa razão, já estava esperando por um jogo excelente, mesmo não conhecendo tão bem o folclore japonês. Acabou sendo uma experiência bem divertida, mas ao mesmo tempo, que não me marcou tanto.
HISTÓRIA
Não sei se é a minha falta de conhecimento sobre o folclore japonês, mas achei a história regular demais. Tem seus pontos positivos como alguns personagens carismáticos e uma exploração bem legal da cultura japonesa. Mas a forma em que a história foi contada não me agradou muito. Os mistérios sobre os Visitantes e a névoa que assola a cidade simplesmente não são desenvolvidos. Além disso, não senti tanto desenvolvimento em Akito e KK, achei até rápido demais a forma em que eles se tornam íntimos considerando que são duas consciências distintas e completamente diferentes ocupando o mesmo corpo.
Não foi uma história que me agradou tanto e que me entreteu (ou surpreendeu). Ela possui momentos impactantes, mas no geral é regular e básica, o que deixa o jogo um pouco a desejar nesse quesito. O personagem que mais gostei do jogo inteiro foi o KK e o próprio vilão. Achei Akito um personagem bem mal desenvolvido, chato e um tanto que irritante, não consegui sentir muita empatia com ele durante a trama, apenas no finalzinho e olhe lá.
Em relação às entre-linhas, elas compõem melhor a lore de Ghostwire: Tokyo, o que torna o enredo mais interessante e rico culturalmente. Conforme o jogador vai encontrando colecionáveis, conhecendo personagens, frequentando regiões e enfrentando diferentes tipos de inimigos, vai se formando um banco de dados que possui diversas informações sobre o folclore do Japão. Dá para aprender bastante coisa da cultura japonesa nesse jogo!
JOGABILIDADE / COMBATE
No início, a jogabilidade frenética em primeira pessoa me deixou bem confuso, até porque confesso estar mais acostumado com um game de ritmo mais parado como Resident Evil ou The Evil Within. Ao longo do jogo fui conseguindo me acostumar com os controles e ter lutas bem mais divertidas. O que me deixou mais decepcionado com o combate foi a pobreza da variação de magias. Basicamente há apenas 3: Vento, Água e Fogo.
As outras "armas", vamos colocar desse jeito, são basicamente talismãs e um arco e flecha, o que limita bastante a diversão conforme o jogador avança na jornada. Um outro ponto que era para ser legal, mas infelizmente foi muito mal tratado, é a opção do jogador poder escolher entre combater os Visitantes em stealth com "ataques furtivos" (no jogo chamados de "Purgação Rápida") ou simplesmente dar as caras pros inimigos e acabar com eles logo num combate de magias.
A questão é que o stealth de Ghostwire: Tokyo é terrivelmente ruim. É até complicado adotar o stealth uma vez que existem inimigos sem cabeça e alguns Visitantes tem uma super-audição, que no meu caso, me ouviram até quando eu estava agachado, com lanterna desligada e mexendo bem devagar. Outra coisa que aconteceu comigo foi tentar espionar os cenários atrás de um "cover" distante, mas ser instantaneamente detectado e em outros - e bem mais estranhos - casos, conseguir me esconder das criaturas de trás de um poste fino ou de uma bicicleta (???). Foi de longe a coisa mais decepcionante para mim no jogo e que em certo momento, eu nem tentava mais ficar em stealth, já ia atirando magia igual doido mesmo.
JOGABILIDADE / VISITANTES E CHEFES
Um ponto fortíssimo de Ghostwire: Tokyo são os Visitantes e as boss fights! Os inimigos comuns do game são fantásticos e possuem mecânicas super legais e desafiadoras. O design dos inimigos também é surpreendente mostrando que a Tango Gameworks ainda consegue fazer criaturas "lindamente" assustadoras, principalmente os chefes e sub-chefes.
Mesmo ao meio de toda a gameplay frenética, alguns momentos do jogo colocam Akito e KK frente a frente de criaturas fortes e horrendas que são capazes de dar aquele frio na barriga na hora de enfrentar. O elenco variado de inimigos também permite que o jogador crie estratégias e manipule certamente seus recursos para enfrentá-los.
JOGABILIDADE / EXPLORAÇÃO EM MUNDO ABERTO
Para quem gosta de jogo em mundo aberto com vários colecionáveis e missões secundárias, vai com certeza amar a exploração de Ghostwire: Tokyo. Aprimorando o estilo de exploração do mapa em mundo aberto de The Evil Within 2, temos um game em que se torna bastante divertido ficar andando por uma Tóquio muito bem recriada absorvendo espíritos, lutando contra Visitantes, adquirindo relíquias, cumprindo missões secundárias e dando comida para cães.
Devo dizer até que as missões secundárias são as melhores coisas de Ghostwire: Tokyo, que me faziam ficar bem mais animado com elas do que com as próprias missões principais. Uma delas, inclusive, traz uma pequena, mas especial, referência ao primeiro Resident Evil. Outras levam Akito e KK para cenários completamente diferentes e deixam o jogo cada vez mais gostoso de jogar. A parte ruim é que uma hora essas missões acabam e a exploração do mapa fica mais chatinha.
INFLUÊNCIA DE THE EVIL WITHIN
As partes que mais amei desse jogo, além das missões secundárias, foram os momentos que me trouxeram as vibes de The Evil Within. Sou suspeito para falar, mas amo aquele estilo de The Evil Within quando Sebastian ou Kidman estão andando em um corredor e do nada todo o cenário muda e começa uma alucinação. São momentos que intensificam o terror e exploram o psicológico das personagens, podendo desenvolver muito bem a trama apenas com o visual e sem necessidade de diálogos ou explicações.
Algumas partes de Ghostwire: Tokyo são bem desse jeito e me impressionaram bastante, apesar de não serem focadas no terror, mas que intensificaram todo o teor sobrenatural que o jogo trás. Essas partes poderiam ser até mais frequentes ao meu ver e deixar em pontos estratégicos do jogo que poderiam explorar melhor o psicológico de Akito e KK e deixar a história bem mais interessante.
GRÁFICOS
Os gráficos de Ghostwire: Tokyo são lindos! Tóquio foi recriada de forma impressionante e nos mínimos detalhes. O ray tracing implementa uma visão bem satisfatória para Tóquio e em certos momentos, pela perspectiva em primeira pessoa, o jogador pode realmente se sentir imerso dentro dessa capital mal assombrada.
No entanto, um lado negativo dos gráficos fica por conta da modelagem dos personagens. Akito talvez seja o personagem com a modelagem mais "OK". Em todos os outros personagens é possível ver texturas mal feitas em suas peles e cabelos. Sem falar de que os visuais dos personagens também não são dos melhores.
JOGO MAL OTIMIZADO
Um outro ponto negativo de Ghostwire: Tokyo foi a má otimização do game, pelo menos agora em seu lançamento. Percebi diversas quedas de frames ao longo da minha jornada, seja em combates ou quando simplesmente estava explorando o mapa. Em alguns pontos também aconteceu de os cenários não carregarem tão bem e algumas texturas ou iluminação ficarem prejudicadas. Num geral, não foi um problema gigantesco, mas a experiência teria sido bem mais imersiva e legal se estivesse melhor otimizado.
RESUMÃO
Ghostwire: Tokyo é um jogo divertido e surpreende em vários aspectos como na recriação de Tóquio, inimigos horrendos e uma exploração ótima, porém não é nada tão memorável. No conjunto da obra, a história principal é um tanto quanto regular e não possui grande relevância, apesar de alguns momentos impactantes, com personagens pouco desenvolvidos e carismáticos. As entre-linhas da história são a melhor parte de lore, uma vez que o jogador pode conhecer bastante sobre a cultura japonesa ao enfrentar criaturas, coletar reliquías e frequentar cenários, montando uma base de dados bem rica. A gameplay é divertida e a exploração em mundo aberto pode trazer horas de entretenimento. No entanto, o combate deixa a desejar com pouca variação de magias e um sistema de stealth bem ruim. Os Visitantes são inimigos incríveis e macabros, com designs impressionantes e mecânicas desafiadoras, além das boss fights serem maravilhosas e gostosas de jogar. Para aqueles jogadores que gostam de games de ação em mundo aberto ou que amam folclore japonês, com certeza será um jogaço! Já para aqueles que esperavam uma coisa mais perto de Resident Evil ou The Evil Within, já digo que é bem distante desses dois jogos e até recomendo passar pela experiência, mas espere por uma promoção ou jogue sem expectativas.